Um exemplo lúdico sobre planejamento estratégico.
Imagine que você e sua família combinaram no réveillon passado de fazer uma viagem de férias no mês de dezembro do ano seguinte, e eis que o mês chegou. Você acorda no dia primeiro de dezembro e diz: “Todos prontos? Já estou indo para o carro, bora lá fazer a nossa viagem de férias?”

É neste momento que a sua esposa pergunta:
– Mas, para onde vamos?
E o seu filho mais velho, que já tinha até esquecido, fala:
– Mas pai, não falamos mais disso depois do ano novo. Achei que tu tinhas desistido, me programei para passar as férias com meus amigos na praia!
O caçula, que dormia quando a viagem tinha sido idealizada há um ano, pergunta curioso:
– Que viagem? A gente vai viajar? A vovó também vai?

Assim funciona uma empresa sem planejamento estratégico.
É uma família que vai viajar, mas sem saber para onde. Como é de se esperar, surgem inúmeras perguntas:

– O destino é frio ou calor?
– A viagem será de carro, ônibus, barco ou de avião?
– Quantos dias vão ficar fora?
– O destino é um só, ou haverá paradas ao longo do trajeto?
– Quanto dinheiro terá disponível para os passeios?
– Onde poderão comer?
– Onde vão se hospedar?

Planejamento não é uma opção

Normalmente a intenção de se fazer o planejamento – assim como a intenção de viajar – é genuína.

A alta liderança sabe que o planejamento é importante, mas nem sempre está disposta a fazer os esforços necessários para que ele aconteça com qualidade. Planejar exige tempo, dedicação, auto-crítica ao olhar para os erros passados, coragem para estabelecer os desafios futuros de modo coerente e consciência de que será necessário alocar recursos para que ele cumpra seu papel.

Já ouvi de grandes empresários que não tinham tempo para planejar pois isso é muito bonito nos livros, mas na vida real ele não é possível. Aí é que mora um dos grandes erros. Todo bom planejamento estratégico tem como norte a execução. É preciso planejar aquilo que deve ser feito para alcançar os objetivos estratégicos. Repito, é necessário planejar aquilo que PRECISA SER FEITO!

Planejamento sem execução não serve pra nada.

Um Planejamento Estratégico tem uma enorme gama de possibilidades. Há diferentes metodologias à disposição mas, independente do método, quando bem executado ele contribuirá nas seguintes frentes:

1. Alinhamento de expectativas, direção e foco

Alinhamento: É super comum que as pessoas do time operacional estejam desconectadas da estratégia. Aquilo que a alta direção idealiza, os por quês, os objetivos, passam longe do time operacional. Um bom planejamento estratégico tem o poder de colocar todos na mesma página, desde o alto escalão até o time de limpeza e conservação terão clareza do por que estão realizando suas atividades, por que acordam todo dia cedo para ir trabalhar naquela empresa, sabem onde estão e onde poderão chegar.

Direção: Na dúvida sobre uma tomada de decisão específica, o planejamento ajudará qual a melhor escolha a ser feita e qual irá aproximar mais a empresa dos objetivos estabelecidos. É uma bússola que aponta o norte constantemente. Óbvio que em determinadas situações o rumo precisa ser redefinido, uma alteração de mercado, um concorrente agressivo que surgiu, mas mesmo na necessidade de um ajuste de rota, o planejamento contribuirá sobre qual o melhor modo para se realizar esse movimento.

Foco: As urgências do dia a dia não terão tanto poder quanto normalmente costumam ter. O planejamento bem executado mantém a empresa focada nas suas tarefas, com o acompanhamento próximo dos resultados ao longo do período.

2. Alocação inteligente dos recursos

Nenhum investimento é caro, desde que traga resultados. Aquelas urgências do dia a dia que mencionei anteriormente, são verdadeiros ladrões de recursos. E digo mais, são ladrões sorrateiros, nem sempre percebemos o dinheiro indo embora. O bom planejamento prevê todos os recursos que serão necessários para que se atinja o crescimento desejado e a melhor maneira de alocá-los, sejam eles financeiros, humanos, tecnológicos, onde contratar, onde retrair, qual ferramenta renovar, qual substituir e qual deverá ser contratada. Prever onde, quanto e como alocar cada real do caixa da empresa, pode representar ganhos significativos no valuation dela ao final do período, por exemplo.

3. Clareza

Por serem todas redondas, há quem tente jogar futebol com bola de boliche, pois não enxerga com clareza a diferença que há entre elas. O planejamento estratégico nos faz olhar para dentro e para fora, saber onde somos bons e onde precisamos evoluir, onde estão nossas oportunidades e quais cenários, concorrentes ou ambientes são ameaças para nosso sucesso, a boa e velha análise SWOT. É entender com clareza o jogo que estamos jogando, em qual campo, contra qual adversário e o nível de preparação do nosso time para disputar o campeonato. O planejamento pode nos mostrar que precisamos contratar novos jogadores, ou então que temos uma verdadeira seleção, mas os jogadores estão escalados em posições que não são as de origem de cada um deles, onde performariam mais e melhor.

4. Competitividade

Se o seu mercado é bom, e eu acredito que seja, caso contrário você não estaria investindo seu tempo e energia para trabalhar nele, muito provavelmente você tem bons concorrentes! Há quem se recuse a admitir que possui concorrentes, uma espécie de miopia organizacional com pitadinhas de soberba. Um grande time se faz notório também pelos combates contra grandes adversários. Não há grandes batalhas sem grandes rivais. O planejamento nos mantém alertas ao mercado. Saber quem são nossos concorrentes, onde estão situados, que movimentos têm feito, tudo isso nos trará mais velocidade e poder de reação. Além disso, é aqui que podemos inovar, buscar soluções, produtos, ofertas que nos diferenciem com pioneirismo, e não apenas como reatividade a ações de terceiros. Planejar para competir!

5. Trazer os dados para a tomada de decisão

O planejamento tem o poder de educar a empresa a olhar para os dados. Ele não pode ser construído em cima de sonhos intangíveis, desejos quase infantis de figurar a capa da Forbes e sem ações concretas e objetivas para que isso se realize.

Sim, você pode sonhar com a capa da Forbes e não há nada de errado com isso. Mas, para tanto, tenha os dados na palma da sua mão. Normalmente quando inicio um projeto de consultoria uma das primeiras coisas que eu falo é: “Vamos apagar do seu vocabulário a palavra ‘feeling’”.

É incrível como empresas grandes, com anos de mercado ainda tomam decisões de modo passional, e depois quando as coisas não surtem o efeito que se esperava, busca-se um culpado ao invés de uma causa. Empresas que tem um compromisso verdadeiro com o futuro tomam decisões baseadas em dados, não em achismos. Quanto melhores forem nossos concorrentes, quanto mais agressivo for o nosso mercado, quanto mais difícil for reter talento, quanto mais apertada for a margem de lucro, mais será necessário olhar com atenção e seriedade para os dados antes das tomadas de decisão.

6. Motivação e engajamento

Quando as pessoas sabem o porque do seu trabalho, quando enxergam que o propósito da empresa está alinhado com o seu propósito pessoal, o engajamento aumenta. Dar transparência e clareza sobre os objetivos da empresa e o papel de cada pessoa do time para se possa atingir os resultados, traz motivação e fomenta engajamento. Evidente que algumas decisões estratégicas ficarão em camadas de alta direção, mas os objetivos organizacionais precisam ser claros e de fácil entendimento para TODA a empresa.

7. Aprendizagem organizacional

O planejamento parte do resultado que foi atingido para aquele que se pretende atingir. É um olhar no retrovisor e outro no para-brisas.

Analisar dados de anos anteriores e, com base nisso, documentar objetivos e plano de ação. Isso promove aprendizado para toda a empresa.

Entender o porquê das metas anteriores serem – ou não – atingidas, o que deu certo e o que falhou, mapear boas práticas que possam ser difundidas e encontrar gaps operacionais a que possam ser reparados. Tudo é fruto de um bom planejamento estratégico. Ele aprende e educa constantemente!

8. Análise de desempenho

Não se pode medir o sucesso ou fracasso de uma empresa apenas pelo resultado financeiro ao final do período. Claro que todos devem trabalhar por isso, mas muitas vezes um grande cliente que traz uma receita importante pode acabar mascarando uma série de ineficiências operacionais. O planejamento estabelece metas claras para todas as áreas, sejam elas metas de vendas, metas de redução de gastos, metas de NPS, metas de redução de churn, meta de presença na mídia, metas de cobrança, de faturamento, enfim. O planejamento dará visibilidade para todas as áreas sobre quais são os seus desafios e como serão medidos e avaliados. Assim, ao final do período, estará muito mais claro do por quê o resultado foi atingido, superado ou ficou aquém do projetado.

9. Gestão de riscos

Ao definir metas e critérios de acompanhamento, o planejamento pode estabelecer gatilhos de ação caso as coisas não estejam saindo conforme o esperado. Todo planejamento precisa de tempo para acontecer, uma ação de atração de novos clientes lançada no primeiro trimestre do ano pode ter seu efeito percebido somente no segundo trimestre. Mas, caso o resultado não aconteça conforme a expectativa, o planejamento pode prever ações corretivas ou emergenciais. Atentem que não é um simples movimento de “apagar incêndio”, mas sim um movimento de que, se necessário for uma redefinição de prioridades, você saberá quando e como fazer.

10. Futuro

O planejamento de hoje contribui para a empresa de amanhã.

Ao planejar, a empresa terá clareza sobre o seu destino, onde ela quer e pode chegar. Claro que no meio do caminho mudanças acontecerão, cenários não previstos vão surgir, um novo concorrente vai ameaçar, mas saber o por que de fazermos o que estamos fazendo, nos trará muito mais segurança sobre onde poderemos chegar enquanto empresa.

Manifestar onde se quer chegar em 5 anos não é o mesmo que abrir mão das oportunidades que possivelmente possam surgir no caminho.

Significa que teremos condições reais de avaliar com inteligência e critério se aquilo que se apresentou como uma oportunidade é de fato uma oportunidade, ou apenas uma distração que se apresenta como um grande negócio num momento de crise em que estamos buscando saídas para um período de baixa no faturamento, mas que apenas tomará tempo, consumirá recursos financeiros e humanos importantes em projetos que depois não se confirmarão tão bons assim.

Talvez saber o por que é importante de se fazer um planejamento estratégico não seja a parte mais difícil do processo, e sim, como lidar com as dificuldades que vão se apresentar no meio do caminho. No próximo artigo irei tratar aqui exatamente disso, quais os problemas e dificuldades mais comuns que enfrentamos nesse processo de planejar e executar.

Curtiu? Concorda? Discorda? Elencarias outras razões pelas quais o planejamento estratégico é importante para o seu negócio? Comenta aí e compartilha conosco seu ponto de vista, vamos conversar e aprender juntos!