Depois do FOMO, agora o FOBO – Fear of Being Obsolet – é o problema da vez. O medo de se tornar obsoleto.

A McKinsey & Company trouxe em seu Mind the Gap a reflexão sobre a preocupação da Geração Z em relação aos últimos movimentos do mercado, em especial a democratização da inteligência artificial.

O artigo da Liz Segel e do Homayoun Hatami, na minha visão, não só faz sentido como também vai ao encontro do artigo que escrevi sobre a nossa dependência por dopamina, por querer consumir/acessar a próxima tendência, a próxima novidade, o próximo lançamento.

Leia o artigo – Dopamina: a sua marca pode ser viciante

Não à toa, é uma geração que cresceu sob os estímulos: curtidas, likes, push notifications, algoritmos, ausência de atrito. E a ausência de atrito é um ponto crucial que diferencia as gerações.

Intelorância ao desprazer

Eu, como Millennial, fui criado num mundo onde tudo dava trabalho.

O trabalho do colégio era entregue manuscrito, em folha de papel almaço. O jantar fora era raro e sabíamos de cabeça o número do único delivery possível. A paquera demandava a coragem da aproximação e correr o risco dos (muitos) foras. Tudo isso fazia com que o esmero, a dedicação, a atenção e valorização estivesse ali, no presente.

A Geração Z, especialmente os bem aventurados de classe média e alta, não conhecem isso. Contudo, essa facilidade moderna não é só mil maravilhas.

O backspace ou o delete faz com que erros nunca tivessem existido. Você não precisa saber nada de culinária para uma comida que chega barata, quentinha e gostosa. O flerte abre-se em janelas entre os que, por interesse mútuo, deslizaram para a direita. A conversa só começa depois do interesse de ambos. Não existe a frustração da rejeição.

Obriguei-me a passar por esse contexto para dizer que, na minha visão, tudo isso contribui para que tenhamos uma sociedade mais insegura e dependente das plataformas. Quando essas plataformas passam a executar tarefas até então humanas, os medos são trazidos à tona. Surgem dúvidas, crises de ansiedade, paralisia e incerteza em relação ao futuro.

Use, mas não seja refém

É fato que precisamos nos atualizar, observar e aproveitar todas as ferramentas e oportunidades. Eu mesmo praticamente não sei mais escrever à mão, sou assíduo do delivery e conheci minha noiva por meio de um aplicativo.

Utilize as ferramentas, compreenda as possibilidades, mas se concentre em adquirir conhecimentos perenes, fazer conexões improváveis, entregar valor acima da média.

Um carro de Fórmula 1 precisa de um piloto à altura para ser bem utilizado. E isso envolve muito mais variáveis do que simplesmente saber dirigir. Pense nisso.